Segurança pública não pode ser um tabu no campo progressista

Por abril 25, 2025Artigos

Senador da República Fabiano Contarato

Falar sobre segurança pública precisa ser uma bandeira do campo progressista. Com 27 anos de experiência como delegado, sei o quanto esse tema impacta a vida de cada um de nós. Precisamos transformar essa preocupação em ações, agir com responsabilidade e discernimento para garantir soluções concretas à sociedade.

Passou da hora de dialogarmos com a população sobre aquilo que mais lhe causa temor. As pessoas não se sentem seguras para andar com o celular à vista, usar uma pulseira, um colar ou qualquer outro pertence pessoal. Sentem-se fragilizadas, vulneráveis. Por isso, precisamos pautar esse debate, enxergar e ouvir o clamor popular que diz: “Estou sendo violado no meu direito constitucional: o direito à segurança pública.”

Temos que entender que o crime é um fenômeno social, mas a redução da violência interessa a todos. Como legislador, minha conduta é agir de forma contundente, não aumentando indiscriminadamente as penas que recaem, sobretudo, sobre a população pobre e preta, mas sendo firme e rigoroso no combate aos crimes de corrupção, que desviam recursos e destroem vidas. Tento semear isso dentro do campo progressista, pois ficamos com o rótulo de que defendemos direitos humanos apenas para pessoas privadas de liberdade. Isso precisa mudar!

Apresentei recentemente no Senado Federal um “Pacote de Leis contra a Impunidade”. Um conjunto de 12 projetos que visa a modernizar a legislação na área da segurança pública. Com quatro eixos principais: combate à corrupção, aumento de penas para crimes graves, regras mais rígidas no cumprimento de pena e fortalecimento das forças de segurança. O pacote busca dar uma resposta concreta à crescente demanda da população por mais proteção e justiça.

Entre as propostas, está a de que crimes como peculato, corrupção, lavagem de dinheiro e inserção de dados falsos em sistemas públicos passem a ser classificados como crimes hediondos. As penas, que hoje começam em 2 anos de prisão, também aumentam para no mínimo 6 anos, chegando a até 12 anos. Com isso, vamos acabar de uma vez por todas com a possibilidade de fiança, indulto ou anistia.

Entre outros crimes considerados graves, também proponho o endurecimento das penas. O estupro de vulnerável, por exemplo, poderá chegar a 30 anos de prisão. O tráfico de drogas, cuja pena atualmente varia de 5 a 15 anos, passará de 8 a 20 anos. Já a pornografia infantil poderá ser punida com até 16 anos de prisão.

O pacote ainda traz uma mudança importante na legislação, que é o aumento do tempo de internação para adolescentes em conflito com a lei. Atualmente, o tempo máximo é de 3 anos. Com o novo projeto, esse período pode chegar a 10 anos para crimes praticados com violência ou análogos a hediondos. De todos os países que compõem o G20 (fórum de cooperação econômica internacional que busca fortalecer a economia mundial), o Brasil é o que tem as punições mais brandas para adolescentes em conflito com a lei.

Não é razoável dizer a uma mãe que perdeu o filho vítima de disparo de arma de fogo que o autor foi condenado a 9 anos, mas não ficará nem 1 ano e 8 meses preso. Isso precisa mudar.

Além disso, queremos valorizar aqueles que arriscam a vida todos os dias para nos proteger. É fundamental fortalecer as forças de segurança e garantir, com justiça e sensibilidade, que as famílias de policiais mortos ou que ficaram inválidos em serviço recebam a devida indenização. Ninguém pode ser esquecido. Também estamos propondo a criação de um programa permanente de apoio psicológico para policiais e seus familiares, oferecendo acolhimento, cuidado e respeito a quem cuida da nossa sociedade.

Esperamos que os projetos tramitem com urgência no Congresso. Já iniciamos o diálogo com o Ministério da Justiça e com a Presidência do Senado para acelerar essa tramitação. Tivemos uma vitória importante na Comissão de Segurança Pública, no último dia 8 de abril, com a aprovação de uma emenda ao PL nº 677/2021, que transforma corrupção e desvio de dinheiro público em crimes hediondos com aumento de pena.

A PEC da Segurança, apresentada pelo Governo Federal, também está em tramitação no Congresso. Como afirmou o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, em audiência no Senado, ela representa um ponto de partida, um esforço conjunto no combate à criminalidade.

É de fundamental importância continuarmos falando sobre esse tema de forma coerente, unificada e com serenidade. Só assim cumpriremos o que determina a Constituição: “Segurança pública é direito de todos, mas é dever do Estado”.

Artigo publicado em A Gazeta em 25/04/2025