Historicamente, o poder público não tem conseguido educar seus cidadãos com a cultura de doação de sangue. No Brasil, 16 a cada mil habitantes são doadores de sangue. O percentual corresponde a 1,6% da população brasileira, segundo Ministério da Saúde.
Muitos não sabem, mas o doador regular tem uma grande importância. Ele ajuda a manter os bancos de sangue em níveis seguros, fazendo com que pessoas que necessitem de transfusões recorrentes ou aquelas que passam por acidentes, enfermidades transitórias sejam salvas.
A falta de doadores regulares, que sempre existiu, se agravou nos últimos meses. Com a pandemia, houve uma queda significativa nos bancos de sangue. O Brasil está sofrendo com a escassez.
Para se ter uma ideia, o Hospital Estadual de Urgência e Emergência (HEUE), referência em atendimento ao trauma no Espírito Santo, realiza, em média, 400 transfusões de sangue ao mês. E no dia 11 de maio, a Secretaria Estadual de Saúde, alertou, em coletiva de imprensa, sobre o nível preocupante de sangue disponível. O estoque de “O negativo”, por exemplo, estava zerado. Precisamos, urgentemente, apoiar a causa. Uma única doação pode salvar até quatro vidas! Esse é um gesto indolor e muito simples.
Também, se faz necessário que o poder público tome medidas incentivadoras para o ato. Propus ao Governo Federal a criação de Política Pública Nacional de Coleta de Sangue Itinerante. Encaminhei um ofício ao Ministério da Saúde e para a Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República, sugerindo a medida para recompor mais rápido os bancos de sangue de todo país.
Essa sugestão já é adotada em alguns estados e municípios. Como é o caso do Hemocentro do Espírito Santo (Hemoes), em que um ônibus totalmente equipado estaciona em determinados locais para receber as doações. Não há dúvidas de que as pessoas ficariam menos receosas em doar sangue, durante a pandemia, se o equipamento fosse mais próximo de suas casas.
Sem contar, que alguns hospitais brasileiros já iniciaram pesquisa e transfusão de plasma de pessoas curadas pelo novo coronavírus. A coleta de sangue itinerante poderia, inclusive, detectar pessoas imunizadas. Assim, a política ajudaria tanto no avanço da pesquisa quanto na expansão desse tipo de transfusão, bem como no cálculo de notificações do vírus.
Outra oportunidade de incentivo fiz por meio de um projeto de lei nº 1.322/2019, aprovado no Senado Federal e que, atualmente, está em tramitação na Câmara dos Deputados, para conceder meia-entrada em eventos artístico-culturais e esportivos aos doadores de sangue regulares. Alguns estados já concedem esse benefício. Outros, utilizam a doação regular como critério, por exemplo, para a isenção de taxa de inscrição em concursos públicos.
Precisamos de mais iniciativas. A cultura solidária da doação de sangue precisa ser adotada pela população. Vale citar, também, a decisão histórica do Supremo Tribunal Federal, que anulou as restrições à doação de sangue por de homossexuais. Uma importante vitória que derruba norma discriminatória. Momento digno de aplaudir, mais pessoas poderão ajudar ao próximo!
No entanto, nesse 14 de junho, data em que comemoramos o “Dia Mundial do Doador de Sangue”, enquanto não são impulsionados mecanismos para incentivar os brasileiros a tornarem-se doadores, faço um apelo a você que faz a leitura: procure a unidade mais próxima da sua residência. Apoie! Faça a sua parte! Doe sangue, doe vida!
Fabiano Contarato é senador pela Rede-ES, palestrante e ativista humanitário. Foi professor de Direito Penal, Delegado de Polícia Civil; Diretor Geral do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-ES) e Corregedor-Geral do Estado na Secretaria de Estado de Controle e Transparência (Secont/ES)
Artigo publicado pelo ES Brasil em 14/06/2020.